terça-feira, 9 de junho de 2009

Marxista principiante

Nunca fui politizada - talvez por influência familiar. Meu pai e a minha mãe ficaram tão decepcionados com os rumos do país após a primeira eleição presidencial do qual participaram que, a partir de então, me ensinaram a votar nulo.
- O negócio é marcar todos os quadradinhos da cédula. Porque se não marcar nenhum, o voto vai para quem já está ganhando.

Logo, não é difícil imaginar a garota politicamente avoada em uma sala de aula cheia de aspirantes a jornalistas, cuja maioria era petista utopista, todos esperançosos acerca do rumo que o país tomaria a partir da eleição do homem barbudo para o Planalto. Achava aquilo tudo bonito demais: uma juventude faminta por política, debatendo o tema com argumentos fundamentados na história e na confiança a um partido que deu duro até chegar ao topo.
Mas, a cada tropeço dos novos mandantes, eu guardava comigo mais uma razão para não acreditar em ser humano nenhum. O alvoroço incial deu lugar a uma melancolia, ora permeada por revoltas ora embriagada em pura arrogância de quem não admite que, mais uma vez, apostou errado.
Meu lado politico aflorou quando li O Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels. Confesso que foi a obra que mais me fez refletir sobre meus ideais políticos. Estudei-a en passant, lendo somente para eu mesma, sem me preocupar com o que seria cobrado no seminário ou na prova. A partir do manifesto vermelho, compreendi o quanto alguns famosos governos totalitaristas haviam ido longe demais com a justificativa de buscar a igualdade entre os homens. Minhas crenças sociais e políticas decaíram ainda mais.

Cinco anos depois, vejo-me outra vez como uma marxista principiante. Desta vez, deixando o discurso comunista de lado, adoto o anarquismo célebre de uma fatia da imensa – e espiritualmente pobre – indústria cultural. Bastaram apenas alguns espetáculos audiovisuais para eu cair nas graças dos Marx cultos e irreverentes: os irmãos Chico, Harpo e Groucho. Sem nenhum parentesco com o filósofo alemão, os Irmão Marx eram na verdade Marrix. O pai, um alfaiate da região da Alsácia, atual França, chegou à América no século XIX e teve o sobrenome registrado com a mesma grafia do cultuado Karl.
O vaudeville, escola artística de gente como Charlie Chaplin e Buster Keaton, serviu de palco para os irmãos ensaiarem a histórica passagem pela Broadway e a histérica estréia nas telas do cinema. Os caçulas da família, Zeppo e Gummo, estiveram por pouco tempo nos espetáculos, obviamente ofuscados pelo talento cômico dos manos mais velhos.
O primogênito Chico (na verdade, Leonard) incorporava o tipo italiano, com seu sotaque e chapéu. Ao lado de Harpo, protagonizava os momentos mais nonsense e de genialidade musical: era um exímio pianista. Querido pelo público, Harpo (que se chamava Arthur) era harpista autodidata e encarnava o mudo folgado. Com peruca, cartola e buzina, perseguia as mulheres como um tarado. O mais famoso dos irmãos era o filho do meio, Groucho (registrado sob a alcunha de Julius). Com um sarcasmo de fazer inveja ao Dr. House, tinha como marcas registradas grandes sobrancelhas e bigode pintados, além do charuto e o jeito de andar engraçado.
Os Irmãos Marx precederam o humor corrosivo do Monty Python e inovaram a maneira de fazer comédia em um período de transição entre o cinema mudo e o falado. E o que impressiona mais é constatar que a primeira metade do século XX foi uma época em que era realmente preciso ter talento para ser reconhecido – embora, injustamente, muitos fossem esquecidos pela impiedosa indústria cinematográfica.

5 comentários:

Lu. disse...

Mais um dos clássicos que preciso conferir.

Jaques, the fool disse...

Comecei a ler o manifesto comunista uma vez...
e consegui ler duas páginas inteirinhas!! haushaushuashuahs

Foi o bastante pra me cair a ficha de que sou capitalista conservadora apostólica romana........ apesar de me fingir de punk nas horas vagas. XD

ótimo texto.

Cristina disse...

Não conheço nada dos irmãos Marx... Em compensação, do Marx alemão, acho que conheço mais do que precisaria rs.

Alexandre disse...

Sou ignorante em irmãos Marx. Sempre ouvi falar, ler resenhas, citações. Aquele vídeo do youtube que você me mostrou foi o primeiro (pedaço de) trabalho que eu vi deles.

Você citou Monty Python, mas tem um "q" de "pastelão" dos bons na comédia deles também.

Sunflower disse...

só tinha uma coisa que odiava mais que os maconheiros da comunicação, os maconheiros politizados que falavam de socialismo mas arrotavam milk shake do Bobs.

beijas