quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O dia em que Woody Allen me fez chorar

Dos filmes de Woody Allen que assisti, o que mais me marcou foi Hannah e suas irmãs. Assisti a ele, pela primeira vez, em 2007. Conhecia pouquíssimo a carreira de Allen nessa época, e foi justamente este o filme que me fez buscar outros trabalhos do roteirista-ator-diretor. Dificilmente qualquer outro filme que ele tenha feito ou venha a fazer superará Hannah e suas irmãs. Essa afirmação, aliás, foi confirmada quando revi a película.
Para quem não conhece, o enredo desse filme não tem uma trama fixa. São diversos personagens, todos de alguma forma ligados a Hannah (ex-marido, marido, irmãs, pais), com dramas e dilemas pessoais tão diversos como hipocondria, infidelidade, ateísmo, complexo de inferioridade, esterilidade, obessão... e a lista vai. Meu personagem preferido, com certeza, é Mickey, o adorável neurótico interpretado por Woody Allen que transforma sua vida após uma suspeita de tumor no cérebro. Depois de narrar sua incessante busca por Deus, que perpassa o judaísmo, o catolicismo, o movimento hare krishna e uma desistente tentativa de suicídio, ele muda a maneira de encarar os fatos ao passar, por acaso, em frente ao cinema e decidir entrar. Eis o que conta esse anti-herói:
- Eu fui a um cinema. Não sabia o que estava passando. Só precisava de um momento para pensar, ser lógico e colocar o mundo em perspectiva racional. Entrei e me sentei. O filme era um que tinha visto muitas vezes em minha vida, desde que era criança, e sempre adorei. Estava assistindo e comecei a me envolver com o filme. E comecei a perceber: "Como você pode pensar em se matar? Não é estúpido? Veja todas as pessoas na tela. Elas são engraçadas. E se o pior for verdade? Não existe Deus, você vive apenas uma vez. É isso. Você não quer ser parte da experiência? Não é tão chato assim". E pensei: "Deveria parar de arruinar minha vida... procurando por respostas... e apenas aproveitá-la enquanto durar". E depois, quem sabe? Talvez exista algo. Ninguém sabe realmente. Eu sei, "talvez" é uma vareta bastante fina para que possa pendurar sua vida... mas é o melhor que temos. E eu comecei a relaxar... e a me divertir de verdade.

Nesse momento, meus olhos encheram de lágrimas. Enquanto Mickey conta a história à amiga, um flashback na tela remonta o que havia acontecido: perambulando pelas ruas de Nova York, ele entra em um cinema. Algumas cenas do filme que motivou sua vida são mostradas. O diabo a quatro, dos Irmãos Marx, foi a resposta-chave para as questões sobre sua existência.
Não sei exatamente porque chorei. Talvez da primeira vez que assisti não tenha absorvido tão bem essa simples poesia pelo viver a vida. Ou talvez não tenha percebido que a forma como Mickey conseguiu a resposta que procurava (ou ao menos parte dela) é bastante semelhante à maneira como tenho me esquivado de pensamentos ruins. Uma válvula de escape, uma armadura contra a mágoa. Um botão de desliga do mundo exterior para a interiorização das emoções: ocultá-las sob a pele e continuar vivendo.
Existe muito sobre nós que preferimos esconder... de nós mesmos. Basta um simples momento, uma mera cena de filme, para que reflitamos sobre o que somos. Woody Allen viverá no meu coração. Para sempre.

Um comentário:

Cristina disse...

Teve uma época em que eu peguei vários filmes do Woody pra ver, apesar de ser difícil encontrar os mais antigos na locadora. Esse, em particular, eu não vi, mas fiquei curiosa.
A propósito, ontem assisti "Vicky Cristina Barcelona" e adorei. Acho que é o melhor filme dele dentre os mais recentes.