domingo, 13 de março de 2011

"The Parade Ends"

O poema original em espanhol pode ser lido aqui. Fiz uma adaptação para o português tendo como base a tradução do filme Antes do Anoitecer (Before Night Falls, 2000). Mas como a legenda era um tanto ruizinha, traduzi a maioria dos versos por conta própria. Para qualquer correção, experts em espanhol, avisem.


The Parade Ends


Por Reinaldo Arenas


Passeio pelas ruas que arrebentam,
pois os esgotos já não servem mais
por entre edifícios dos quais tem de se desviar
pois parecem cair sobre nós
por entre rostos que nos indagam e sentenciam 
por estabelecimentos fechados
mercados fechados,
cinemas fechados,
parques fechados, 
café fechados,
Exibindo, às vezes, cartazes (justificativas) já empoeirados,
FECHADO PARA REFORMAS
FECHADO PARA RESTAURO
Que tipo de restauro?
Quando termina o chamado restauro, a chamada reforma?
Quando, ao menos, começará?
Fechado... fechado... fechado...
tudo fechado..

Chego, abro os inúmeros cadeados, subo correndo a escada improvisada.
Lá está ela, me aguardando.
Descubro-a, retiro a lona e contemplo suas empoeiradas e frias dimensões.
Tiro-lhe o pó e volto a passar-lhe a mão.
Com pequenas palmadas, limpo seu dorso, sua base, suas laterais
Sinto-me desesperado e feliz, ao seu lado, na frente dela,
passo as mãos pelo seu teclado e, rapidamente, tudo recomeça.
O tec tec, o tilintar, a música começa, pouco a pouco, 
agora mais rápida, a toda velocidade
Muros, árvores, ruas,
catedrais, rostos e praias,
celas, celas minúsculas, celas enormes,
noite estrelada, pés nus, 
pinheiros, nuvens,
centenas, milhares,
um milhão de maritacas
tamboretes e uma trepadeira.
Todos atendem ao meu chamado e vêm para mim.
Os muros retrocedem, o teto desaparece e, naturalmente, você flutua,
flutua, flutua arrancado, arrastado, 
elevado,
levado, transportado, eternizado,
salvo, graças a esse ritmo sutil e constante,
a essa música,
a esse tec tec incessante.

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