Fantasia. Delírio. Realização. O sino mal anuncia que é meia noite em Paris e o roteirista de Hollywood e aspirante a escritor Gil Pender se prepara para uma deliciosa viagem ao seu período preferido: a década de 1920. Na Cidade Luz em plena efervescência cultural, intelectuais norte-americanos, franceses, espanhóis, italianos e outros, se reúnem e discutem arte. Literatura, pintura e cinema jamais viveram um período tão interessante e marcante - pelo menos é o que Pender imagina. Na sua primeira visita a esse mundo de sonhos, ele logo (re)conhece Zelda e o marido F. Scott Fitzgerald. No bar, Cole Porter toca e canta Let's Do It. Todos bebem, conversam e dançam alegremente. Como não se apaixonar por essa visão romântica da Era do Jazz?
Um dos cineastas norte-americanos mais nostálgicos de todos os tempos, Woody Allen acerta em cheio no roteiro e na direção de sua mais recente empreitada cinematográfica. Aliás, a própria escolha de Owen Wilson como protagonista é surpreendente e correta. Eu diria que Wilson, aliás, é o melhor alter-ego de Allen desde o próprio Allen. E olha que nesse quesito ele tem concorrentes de peso, como John Cusack (Tiros na Broadway) e Larry David (Tudo Pode Dar Certo).
Nasci na época errada?
Nasci na época errada?
"O que eu tô fazendo aqui?" |
Diogo Mainardi em Paris? |
Além de chatinha, a noiva de Pender não disfarça que se derrete por um ex-professor que encontra ao acaso em Paris (nota: o cara é comprometido e a esposa está com ele na cidade). O tal é um intelectual pedante e até deselegante a ponto de se esforçar para mostrar sua superioridade para uma guia turística que o corrige a respeito de um fato pertinente à vida pessoal de Rodin, algo que claramente irrita Pender e provoca grande admiração em Inez. Imagine você ir a um museu e querer simplesmente admirar uma pintura enquanto um pentelho fica o tempo todo falando para mostrar o quanto sabe, pensando que está fazendo um grande favor ao agir como um tutor super instruído. É exatamente por isso que Pender prefere as andanças solitárias pela cidade e aguarda ansiosamente pela meia noite para rever seus velhos colegas e um novo amor.
Os Fitzgerald, um casal meigo |
Referências delirantes
As referências a artistas do período simplesmente me fizeram delirar, principalmente porque li a obra de Ernest Hemingway sobre a época em que viveu em Paris, trabalhando como jornalista correspondente e tentando escrever contos para sobreviver na capital francesa. O livro em questão é citado pelo próprio Pender e se chama Paris É Uma Festa (A Moveable Feast). E como O Grande Gatsby, de Fitzgerald, também é um dos meus livros de cabeceira, ver Tom Hiddleston interpretando o autor foi um momento de êxtase (sim, o Loki de Thor tem uma participação pequena, porém fundamental, ao lado da igualmente ótima Alison Pill). Gertrude Stein, que também reconheci graças a Paris É Uma Festa, toma parte na história, assim como Pablo Picasso, Salvador Dalí, Man Ray e Luis Buñuel (nota: é impressionante como os diretores de elenco conseguiram atores realmente parecidos com as personalidades que interpretam).
Moçoilos, sim!
Um Hemingway fora de série |
Moçoilos, sim!
Embora a mais recente empreitada cinematográfica de Woody Allen não seja do tipo que recebe registros de impressões femininas, por ser algo mais profundo, ela tem seus momentos de palpitações apaixonantes. Por exemplo, o já citado Tom Hiddleston está simplesmente insubstituível como Fitzgerald. Adrien Brody dá o ar de sua graça como um divertido Salvador Dalí, enquanto Corey Stoll constrói um Ernest Hemingway atormentado pelas lembranças da guerra, mas muito macho para dar em cima da mocinha.
O veredito
Pausa para a foto |
Um comentário:
Filme fantástico, cheio de vida... revigora qualquer um
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